Quando em 1950 o Dirigente passou do Colonato do Vale do Loge para Caconda, permaneceu algumas semanas em Luanda. E um dias desses ele mandou-me chamar no tabernáculo e disse-me:
"Mbona Pedro, tu tens dois lugares marcados e não sei em qual deles ficarás. Primeiro estás no grupo dos Anjos e em segundo no grupo dos Profetas. Se casares ficarás no grupo dos profetas, mas se não casares então estarás no grupo dos Anjos. Estás a ouvir?".
Outro dia chamou-nos e incumbiu-nos um trabalho, porque cada crente tinha que ter um lenço branco com alguns símbolos bordados e uma vara semelhante ao que Moisés usou. Dos 3.000 Tocoistas que foram repatriados de Leopoldville para Angola, todos trouxeram uma vara. Aqui é onde reside o segredo: em todas as partes em que existe Tocoistas, somente os Ngunga Ngele é que têm esta vara. Com ela podes entrar em qualquer lugar e fazeres o trabalho e voltares sem ninguém te ver.
E disse-me: "Vai ter com as meninas para bordarem nos lenços esta estrela e tudo isto que escrevi". Ele fez uma estrela e escreveu um S e outras coisas mais que só ele sabia o seu significado. A PIDE depois recolheu estes lenços. E o Espírito deu ordem que cada crente tinha que possuir um lenço deste tipo. E fui ter com as meninas para bordarem os lenços segundo as descrições feitas pelo Dirigente, mas elas recusaram borda-los e fui ter novamente com o Dirigente e disse: "Elas recusaram bordar os lenços". E ele replicou: "Recusaram? Não faz mal, vai dormir".
Eu fui dormir e então o Dirigente apareceu-me em espírito e levou-me no Colonato do Vale do Loge. Subimos primeiro uma montanha e descemos. Voltamos a subir uma outra montanha e ela abriu-se… Já era uma Escola de ensino de artes e vi todas as artes e disse-me para aprender a arte de bordar, porque as meninas haviam recusado o trabalho que orientara. Aí existiam pessoas que não são deste mundo. E acrescenta: "Mbona Pedro, viste? Agora ficas aqui. Vás aprender e terás a missão de dirigir todas as meninas da Igreja na aprendizagem da arte de bordar". Quando ajustei, estava na cama.
A noite quando fui ao tabernáculo o Dirigente disse-me: "Mbona, eu já te dei o que faltava". E fiquei 12 dias sem falar e sem comer. Eu acordava, ía trabalhar, mas não falava com ninguém, nem com o branco que dirigia os trabalhos e este também não me perguntava, mas eu fazia de tudo. Como é que foi? Eu ia e voltava! Vi maravilhas, maravilhas… E quando eu peguei na agulha e na linha, fiz milagres… Eu ensinei muitos em Luanda e mesmo cá em Benguela, ensinei muitos. Até em Portugal foram vários trabalhos feitos por mim. O nosso patrão da Companhia de Açúcar de Angola encontrou uma toalha feito por mim na casa do Director e ao lhe dizerem que "foi o meu afilhado Mbona Pedro quem bordou", mandou-me bordar várias toalhas de mesa. Eu fazia com os olhos fechados e nem precisava de uma amostra ou desenhar, era em ponto cruz.
GCNET, em Luanda, aos 17 de Agosto de 2011.
